Preservadas, casas centenárias são exemplos do cuidado e genialidade dos imigrantes alemães em Roca Sales
A série de reportagens sobre a Imigração Alemã em Roca Sales chega à segunda edição com destaque para os traços arquitetônicos das construções. Sejam elas residenciais ou comerciais. Embora alguns tenham sido demolidos ao longo dos anos por uma série de fatores e hoje existem apenas na memória ou em fotografias, outros prédios resistem ao tempo, sobretudo, pela dedicação das famílias proprietárias.
Há exemplos em localidades como Linhas Júlio de Castilhos, Benjamin Constant, Marechal Deodoro, 7 de Setembro, 21 de Abril e Fazenda Lohmann. À margem da ERS-129, há dois exemplos. O aposentado Neldo Röhsig (76) nasceu e viveu sempre na mesma residência. Neste caso, a esposa Geni Röhsig (74) foi quem veio morar com ele após o casamento. Erguida em 1917, a casa foi comprada 15 anos depois pelos pais de Neldo: Oswvin Röhisg e Elza Redecker Röhsig.
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Atenção aos detalhes
O ano de fundação consta bem acima da porta principal. Grande parte das características originais foram mantidas, como paredes, aberturas e corrimões. A construção se deu com o uso de madeira de Cabreúva, cortada durante o inverno, e que, segundo os antepassados, era imune ao cupim. E com tijolo cru. O telhado, por sua vez, é de zinco.
Segundo Neldo, as cozinhas, como a de seu lar, eram construídas separadamente por uma questão cultural. Numa época com recursos e mobilidade limitados, um incêndio poderia causar prejuízos incalculáveis às famílias. Então, tratava-se de uma precaução, para evitar que as eventuais chamas se alastrassem por todo o imóvel. Em outros casos, o banheiro também ficava afastado.
Sobre a manutenção, o proprietário destaca que se trata de uma missão difícil. No entanto, recompensadora. A última pintura ocorreu há seis anos, mas parece recente. Limpezas são frequentes e requerem cuidado extra, principalmente por conta da idade avançada do casal. “Preservar é um ato de amor. A minha história está aqui. Enquanto tiver força, me dedicarei a esse dever. Não venderia por nada. Se, depois que partimos, a família quiser vender, aí será com eles”, afirma.
O trineto do precursor
Poderia ser coincidência, mas não neste caso. Léo Eqgart Lohmann é o trineto de George Carlos Lohmann, o imigrante alemão, que em 1870, adquiriu 24 colônias do território correspondente à comunidade e distribuiu entre seus filhos. Portanto, membro da histórica família e único a ainda residir na região. Aos 80 anos, o aposentado viveu quase sempre na comunidade, exceto por uma passagem pelo Colégio Teutônia na juventude.
A casa em que seu Léo vive foi construída em partes. A mais antiga, pelo avô Adolfo André Lohmann em 1919. Já a recente, dos anos 1950, coube ao pai, Arthur Albino Lohmann. As construções demonstram a força do material usado antigamente. Mais próximas do Rio Taquari, abaixo dos trilhos, ambas ficaram submersas pelas enchentes de 2023 e 2024. Contudo, resistiram, com apenas alguns danos materiais. Por outro lado, as moradias de familiares do seu Léo, nas proximidades, tiveram problemas estruturais maiores.
De acordo com Léo, a parte mais antiga foi erguida com paredes duplas, com tijolos de barro. O próprio barro serviu como cimento. Janelas e algumas divisórias internas são originais. Por conta das inundações, houve a necessidade de reformas gerais. A respeito da localização, o proprietário relata que era estratégica, pois tanto o pai quanto o avô utilizavam caíques para acessar o manancial e se deslocar até a área central ou mesmo, pescar.
“Agradeço pela vida, de minha família e pelas casas estarem em pé. Apenas lamento que o rio tenha levado inúmeras memórias escritas dos Lohmann. Mas tenham a certeza. Ficarei aqui até o fim dos meus dias”, sentencia Léo. O aposentado fala tanto português quanto alemão. Exercitar o idioma dos antepassados é uma forma de exaltar o legado.
Menção internacional
Conforme o pesquisador João Manoel Moraes, a arquitetura germânica local sempre atraiu os olhares mais atentos. E a fama ultrapassou fronteiras, com direito a citação pelo historiador francês, Jean Roche. No livro “A colonização alemã e o Rio Grande do Sul”, cuja edição brasileira foi publicada em 1969, o autor afirma que “o estilo Enxaimel em Roca Sales é diferenciado e assimétrico”. Ou seja, não segue determinada linha. Portanto, uma referência aos marcantes traçados. Na próxima edição do Jornal de Roca Sales, vamos falar sobre as festas típicas, com ênfase na Oktober Freund Fest, a versão roca-salense do famoso evento realizado em cidades como Santa Cruz do Sul, Igrejinha, Blumenau e Munique. O projeto reverencia o bicentenário da colonização Alemã em território gaúcho, celebrado ao longo de 2024.
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