Amigas mantém vínculo há quase 40 anos e reverenciam a trajetória de Luciana Scapini. Líder do grupo, ela é portadora de doença neurológica
Marcel Lovato
Certa vez, o poeta Mário Quintana escreveu: “A amizade é um amor que nunca morre”. Já Aristóteles foi além. Dizia que “a Amizade perfeita apenas pode existir entre os bons”. Tais pensamentos ilustram o vínculo criado entre as amigas Luciana Scapini, Taís Pereira Silveira, Ângela e Luisa Dalpra Hollmann, Fabíola Matias, Fernanda e Mônica Katz, Sabrina Rotta, Katy Deisy Sartori, Márcia Luchtember e Patrícia Tomasi. Uma relação que resiste ao tempo e se fortalece pelas circunstâncias da vida.
Todas possuem entre 40 e 50 anos. São décadas de companheirismo. Na tarde de domingo, 21, as dez se reuniram para compartilhar histórias e celebrar, sobretudo, a existência, a importância da ‘líder do grupo’, Luciana. Em comum, o fato de ela ter sido a responsável pela junção da turma, já que elas se conheceram em períodos distintos. Professora de química, com atuação reconhecida no extinto Curtume Aimoré – e que gostaria de ter cursado Psicologia – Luciana é portadora de uma doença neurológica e degenerativa.
Memórias dos anos dourados
Para as amigas, Luciana sempre foi uma mulher à frente do seu tempo e que, especialmente nos últimos anos, se tornou exemplo de força e resiliência. Ao longo de quase duas horas, com direito a risadas, chá e até doces, o grupo relembrou histórias como as emocionantes voltas – leia-se sem capacete – na moto Garelli, muito popular na década de 1980, ou o gosto de Luciana pelos seus igualmente xodós automobilísticos (Uno Escort e depois uma Peugeot). Assim como muitos jovens encantadenses, ela aprendeu a dirigir no então Parque Cinqüentenário (atual João Batista Marchese), aos 15 anos.
Ainda, as brincadeiras no campinho, próximo à casa de Luciana, no Centro. Destaque também para as presenças confirmadas no antigo bloco carnavalesco, Miag, famoso em Encantado e região entre as décadas de 1990 e 2000. O grupo participou, praticamente, de todas as edições. Luciana também emprestava roupas e acessórios, por exemplo, para as irmãs Luisa e Ângela. Luísa lembrou que chegou a perder um brinco. “Fiquei com medo de que fosse ficar brava comigo, mas com a “Luti” não tem tempo ruim.”
Mônica e Fernanda lembraram que Luciana sempre estava pronta para uma festa, um programa de lazer. Um dos pontos favoritos era a beira do Rio Taquari, onde o grupo – ou parte dele – se reunia para curtir a tranqüilidade do espaço, beber aquela cervejinha e contar as novidades. As fofocas eram o ponto alto dos encontros.
Lupus e Festa Surpresa
Pode-se dizer que a antiga boate Lupus foi o local onde a amizade se fortaleceu. Era o ponto de encontro, onde elas tiveram a certeza do quão valiosa era a união, a irmandade que resiste ao tempo e eventuais empecilhos.
Reza a lenda que Luciana saía escondida de casa para freqüentar a balada. Entretanto, o pai, Ibanor Scapini, sabia disso e ‘acobertava as escapadas’. Paralelamente, as amigas fazem questão de salientar que desmistificaram um ditado muito propagado, especialmente pelos pais no auge da boate: “Quem ia para a Lupus, não passa no vestibular”. Afinal de contas, todas se formaram e fizeram carreira em suas respectivas áreas.
Em novembro de 2023, no aniversário de 49 anos de Luciana, suas amigas organizaram uma festa-surpresa. Com direito a drinks sem álcool, cardápio adaptado, acessibilidade, banda e pagode, o evento se estendeu por horas. No entendimento das organizadoras, não havia necessidade de adiar para os 50 anos, que serão comemorados no dia 19 do referido mês neste ano.
Era preciso ‘viver o agora’, retribuir toda a solidariedade, o respeito, a simpatia, a honestidade, enfim, a grandeza de Luciana, carinhosamente chamada de Luti ou de Lu. O resultado: nas palavras da homenageada, a “melhor festa de sua vida”.
Uma referência
Conforme Ibanor, a filha jamais se queixou da doença e até encara, com certo bom humor, duas impossibilidades: o consumo de bebida alcoólica e as caminhadas. A mãe, Maria de Lourdes Scapini, frisa que as amigas podem não estar sempre presentes, por uma série de questões, mas dão um jeito de manter a conexão.
Esse carinho fica evidente no olhar atento, no carinho, no cuidado. “A Lu gosta muito que elas venham, mas nunca pede a visita. E a cada vinda, demonstra preocupação com todas, deixa claro o quanto as amigas representam para ela. Isso emociona”, destaca. Residente em Fortaleza, Márcia costuma vir anualmente ao município e inclui, no seu roteiro, a visita especial.
Ao ouvir o quanto é especial e ser despertada para memórias de uma vida cheia de aventuras e momentos icônicos, Luciana se expressou com duas frases que sintetizam o simbolismo do Dia do Amigo: “Não sabia que era uma referência. Sinto-me feliz! Amizade é tudo de bom!”, conclui.
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