Após um mês fechado devido às fortes chuvas e inundações que atingiram o RS, a Associação Amigos de Cristo de Encantado, reabriu as portas do complexo para receber visitantes. A retomada das visitações ocorreu em 8 de junho. Desde os primeiros dias de maio, após a enchente, os associados e colaboradores dedicaram a auxiliar a comunidade do Vale do Taquari e região.
Conforme a secretária executiva da entidade, Vanessa Goldoni, com a suspensão das visitas ao monumento, todas as energias ficaram voltadas ao auxílio às famílias, já que as fortes chuvas causaram danos nas estradas de acesso ao local, impossibilitando a visitação segura do público.Agora, segundo ela, a retomada visa possibilitar aos fiéis novos momentos de reflexão, agradecimentos e pedidos de proteção. “Sabemos que a energia deste local proporciona paz e traz alento à alma. A comunidade e os peregrinos estão ansiosos para voltar a se conectar com ele”. Apesar de a reabertura do Cristo Protetor de Encantado ser uma boa notícia para o turismo da região, as visitações ainda estão escassas. Conforme Vanessa, é compreensível que o número de visitantes esteja aquém do normal, considerando as circunstâncias pós-enchentes. O desafio, entretanto, é quanto à inauguração do Complexo. Conforme o presidente da Associação, Robison Gonzatti, a ideia se mantém para 2024, porém depende do cronograma da empresa responsável pela obra. “Funcionários da Ducatti, inclusive o mestre de obras, também foram atingidos, além de a empresa também estar tendo dificuldades com entrega de materiais porque fornecedores também foram afetados. Esperamos que até fim de julho tenhamos uma definição”, estima.
Trem dos Vales – Temporada 2024 cancelada
Outro principal atrativo turístico da região – o Trem dos Vales – também sofre com os efeitos da enchente. A temporada 2024 dos passeios pela Ferrovia do Trigo, prevista para iniciar nos próximos dias, foi cancelada. O comunicado oficial ocorreu dia 19, mas empreendedores do ramo, agências de turismo e visitantes, já esperavam por essa notícia. Conforme o coordenador do Trem dos Vales, Rafael Fontana, o cancelamento vai ao encontro das dificuldades enfrentadas pela ferrovia, especialmente no trecho que compreende o passeio, comprometido pelas movimentações do solo. “Estamos em constante diálogo com a Rumo Logística para entender a extensão dos danos e garantir que as medidas de reparo sejam as mais adequadas e ágeis”, complementa. A prioridade da operadora dos passeios, conforme Fontana, é a segurança dos passageiros. “Queremos assegurar que o Trem dos Vales retorne, mas com total integridade e confiabilidade. Sabemos que esta pausa é crucial para garantir experiências futuras excepcionais”, complementa.
Assim como o Cristo Protetor e o Trem dos Vales sofreram interferência direta devido à nova enchente, estabelecimentos e empreendimentos de menor porte também encaram desafios. Conforme a consultora de negócios turísticos, Paolla Silveira, esses eventos climáticos, fatores externos ao negócio, nos fazem refletir sobre o quanto o empreendedorismo precisa se adaptar, especialmente o do turismo, que envolve diferentes perfis de pessoas, de lazer, e onde as redes sociais criam muita expectativa. “Nosso turismo é diferente de todos os que já aconteceram. Gramado e Bento Gonçalves, por exemplo, demoraram muitos anos para se consolidar e a comunidade quis isso. Conosco não. Dormimos uma cidade industrial e acordamos uma cidade turística. Foi e está sendo tudo muito rápido e vemos empreendimentos ainda ‘vendo o que vai acontecer’. Isso preocupa”, destaca Paolla.
Segundo ela, que criou a Lupa Curadoria e Consultoria, o Cristo trouxe grande visibilidade para Encantado e o Vale do Taquari. Entretanto, agora depende do empreendedor manter isso. “Fico imaginando o turista planejando sua viagem pro Vale e enxergando só o Cristo…”. Paolla percebe que outros setores da economia veem essa dificuldade e se adaptam, mas o turismo ainda não. “Ficamos aguardando a volta do Trem dos Vales, a inauguração do Cristo… sabemos que essa situação vai terminar, que as pontes serão reconstruídas, e é o momento de o empreendedor do turismo pensar de novo no seu negócio, porque já temos case de sucesso independente do Cristo. Queremos que as pessoas venham por causa do negócio dos empreendedores. Queremos ver o copo mais cheio do que vazio”, frisa.
Conforme Paolla, toda a tragédia pode ter uma oportunidade. “Criamos a Lupa porque vemos que o empreendedor quer ser grande, quer ser a atração no turismo, mas no dia a dia, não consegue. Ele tem um dom e faz muito bem, mas até o turista chegar nele, tem um longo caminho. E o empreendedor não tem tempo de fazer. Mostramos as tendências. O turismo só vai acabar se continuarmos achando que nosso negócio está atrelado a outro. Pensar dessa forma só vai fazer com que continuemos sendo passagem.”