Um dos artistas mais presentes no Vale do Taquari desde a enchente de setembro, permanecendo presente nas demais, já arrecadou e distribuiu dezenas de milhões de Reais, e não mede esforços para acompanhar de perto a situação emergencial de cada cidade atingida. A região retribui, distribuindo carinho e presença maciça a cada novo show “da comédia italiana”, onde Eduardo Gustavo Christ incorpora Badin – O Colono.
Ele é o entrevistado especial desta edição. Confira:
Badin, desde setembro do ano passado, você se tornou um dos maiores ídolos dos municípios aqui da região alta do Vale do Taquari, por sua determinação em ajudar, e ajudar de uma forma grandiosa. O que te move a agir de forma direta diante dessa tragédia?
Cara, eu acho que é o fato de se colocar no lugar do outro, e pensar que se fosse com a gente, como é que eu gostaria que as pessoas agissem. Então é isso… tentar ajudar da forma mais rápida possível, da melhor forma que pode ser feita e mais rápido.
Mais do que arrecadar milhões de Reais e distribuir para todos os setores, entidades, famílias… você veio diversas vezes ver de perto a situação das pessoas gravemente atingidas pela enchente. Você já viveu na pele algo semelhante? Alguma perda, algum sofrimento que pudesse ser amenizado com o amparo de outras pessoas, como o que você faz para as pessoas daqui?
A região onde eu moro é uma reunião muito, muitíssimo abençoada, livre desses fenômenos, livres destas catástrofes naturais ‘né’… Então, a gente tem até algumas cidades próximas que foram bastante afetadas, inclusive a cidade onde eu nasci, Aratiba/RS. Nesta última enchente, ela também foi afetada, alagou a cidade, algumas pontes foram perdidas… Não na mesma proporção e intensidade do Vale do Taquari e de todas as outras que foram atingidas, mas desde a enchente de setembro, quando eu resolvi sair de casa e ir lá acompanhar de perto, era para entender como eu poderia ajudar da melhor forma. As imagens que a gente vê pelo celular, pela televisão, não passam nem 5% do que é ver de perto toda aquela tristeza, aquela destruição.
Então, poder estar ali e pessoalmente ver e entender a melhor forma de ajudar, é a melhor coisa que pode se fazer quando a gente tem um recurso para ser destinado, né?
Mesmo ajudando tanto, você não escapa de críticas estapafúrdias, dando a entender que você utiliza os recursos adquiridos em benefício próprio? O que você tem a dizer para estas pessoas?
Todas as vezes que eu ouço essas críticas vimos o quanto existe gente escrota neste mundo. Da outra vez provei com todos os comprovantes de todos os pix, inclusive daquele outra enchente de setembro. Eu ainda não consegui nem pagar os impostos que a gente tem que pagar, porque aquela vez o dinheiro passou pela minha conta… mas essa questão eu não mostro para as pessoas, porque tem tanta gente que não faz nada porque não está a fim de escutar tanto absurdo, de ver tanta bobagem, ou talvez já está cansado, com outros problemas pessoais… aí tu faz de tudo para ajudar e ainda tem essas pessoas que vem falar estas besteiras. Hoje, já não me surpreendo. Essas coisas falam muito mais sobre as pessoas que estão falando, do que sobre mim mesmo. Se elas falam em roubar, é porque é o que elas fariam com o dinheiro.
Desde a primeira enchente, em setembro, até esta, de maio, quanto você já arrecadou para os atingidos do Vale do Taquari?
Na primeira enchente de setembro foi arrecadado R$ 3,6 milhões. Nessa de agora já passou de R$ 75 milhões, né? (sorri, com orgulho!) Até hoje, dia 28, já foram destinados praticamente R$ 31 milhões para as causas mais urgentes. Como daquela vez eu dei um valor da minha conta corrente, agora tem um imposto que eu preciso pagar pela movimentação que aconteceu na minha conta.
Você tem sido chamado para shows em diversos municípios da região. Como é voltar para essas cidades e reunir multidão a cada show?
É muito gratificante, assim sabe? Em cada lugar que a gente faz show, muitas pessoas foram ajudadas e dizem: “Bah cara, tu ajudou minha família, ajudou meu pai, ajudou minha mãe”. Isso é muito bacana, e também tem o carinho das pessoas né, isso é extremamente gratificante. Levar um pouco de alegria para essas pessoas, não tem dinheiro no mundo que pague.
Você é um artista, não é técnico, mas o que você pensa que pode ser feito para evitar novas tragédias como essas?
Cara, eu acho que não adianta reconstruir nas áreas que podem ser atingidas novamente. Isso aconteceu na enchente de setembro, e todo o valor que foi investido nos mesmos lugares, foram perdidos dessa vez. Isso mostra que essa questão, infelizmente, pode se repetir a qualquer momento. Não tem como prever isso. Eu acho que tem que ser pensado em algum plano de contingência. Essas áreas mais afetadas precisam ser realocadas; não adianta insistir no erro porque vai perder dinheiro de novo. Eu acho que pensar no plano de contingência, do que pode ser feito nos rios, tem que ser organizado após essas emergências serem resolvidas, porque infelizmente pode acontecer de novo a qualquer momento. A gente torce que não, mas ninguém tem controle sobre isso, né?
Qual é a frase de impacto que o Badin – O Colono, deixa para nossos leitores? Vontade de vender fora tudo?
Cara, eu acho que a coisa mais bonita que eu vi, principalmente nessa última vez, em que o estrago foi muito maior, é a união do povo, a vontade de ajudar, de recuperar o quanto antes para conseguir fazer as pessoas terem o mínimo de dignidade, para elas voltarem as atividades, enfim… Essa união assim, é muito bonita de se ver, eu acho que é uma coisa que é muito do Brasileiro, do gaúcho, de querer se ajudar mesmo. Teve gente que perdeu tudo e deixou tudo de lado, para ir lá ajudar a salvar outras pessoas que estavam numa situação pior, então isso é extremamente maravilhoso de se ver.